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Introdução

por Renata Azevedo Moreira

“A palavra queer deixou de ser um insulto para se tornar um sinal de resistência à normalização, deixou de ser um instrumento de repressão social para se tornar um índice revolucionário.”

Paul B. Preciado (ele/dele), escritor e curador trans

Estranho, peculiar, ímpar. 

Aparecendo ou agindo de forma diferente do normal. 

Aberto a suspeitas, duvidoso quanto à honestidade.  

A história é realmente inimaginável. Olhar para as origens da palavra queer é testemunhar o poder transformador do tempo. Mas, é claro, eu não estou (sempre) delirante. Como o teórico queer José Estéban Muñoz disse, a queeridade ainda não está presente. É uma utopia, uma aspiração, um objeto de desejo. Mas acredito que, mais do que tudo, queerizar é um processo. Uma trajetória de armadilhas múltiplas, vigilância constante e violência eventual. Mas para mim, mais do que tudo, a queeridade é um lugar de alegria genuína e infinita e de celebração. 

É uma festa dos marginalizados, dos rebeldes, dos indesejados. Mas também é um lugar de resgate para aqueles um pouco exasperados. Pessoas que estão bem em conformidade com a maioria das normas, mas lutam contra a obediência cega. Que pensam criticamente, ousam questionar regras e amam suas famílias biológicas, mas não podem existir sem laços sólidos e extensos que talvez até sejam mais fortes do que os laços de sangue. Onde oposições como certo e errado e bom e mau deixam o palco para dar lugar a miríades de outras interseções. 

Queer é um espectro de energia potencial. 

Eu o observava cuidadosamente, imaginando o que ele estava silenciosamente preparando com aquela câmera Ilford que ele não parava de tirar da bolsa quando menos esperávamos. Eu podia sentir que algo estava por vir. Cézar nasceu para coisas grandiosas, e aqueles que o conhecem não precisam de convencimento. Sua mente nunca para; às vezes adormece quando ele precisa de espaço, e então, de repente, ressurge tão poderosa e implacável como a Fênix que ele sempre foi. 

Uma mistura não-binária de projeto curatorial e artístico, House of a Kind nasce em tempos de necessidade urgente, quando o mundo ao nosso redor está mais polarizado do que nunca. Em vez de avançar diretamente rumo à destruição de tudo que não é como nós, Cézar nos convida a focar nas semelhanças em vez das diferenças. A procurar por pontos em comum. A honrar as histórias daqueles que lutaram por nossa própria existência. E a dar as mãos. 

Este é o projeto dele: em constante crescimento, contínuo, aberto a todos e a tudo que inclui amor e respeito. Respire fundo, reserve um tempo e aprecie a mente extraordinária e infinita de Cézar. 

Mal posso esperar para ver o que acontece quando você experienciar.


Renata Azevedo Moreira (ela/dela) é uma pesquisadora, curadora e trabalhadora cultural brasileira baseada em Tkaronto (Toronto). Sua prática curatorial baseada em processos é inspirada por gestos queer, feministas e pós-coloniais. 


Uma vez, quando Renata estava em crise sobre sua carreira, eu disse a ela qual acredito ser o papel real de um curador de arte. Se você dividir a palavra "curador" como "cura-a-dor", ela se torna a que cura. Para mim, esse é o papel de todo curador: ir por aí e encontrar aquelas peças de esperança, alegria e faísca de criatividade capazes de emocionar as pessoas por meio da arte.


Para mim, Renata é capaz de fazer tudo isso e mais. Ela é uma mulher de muitos talentos. Mas vou manter simples, ela é uma amiga para toda a vida, absolutamente única.

a house of a kind production

lONDON, UK, 2023

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lONDON, UK, 2023

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lONDON, UK, 2023